segunda-feira, 21 de abril de 2008

Um poema à História

Um ambiente calmo, é o que qualquer um diria após uma breve passada de olho naquela praça de folhas verdes e vivas, flores vermelhas e balanços recém pintados e muito bem cuidados. Pedras brancas circundavam as árvores, pedras cinzas os brinquedos e coloridas os banquinhos. Uma praça, um parque, o ambiente perfeito para se passar o olhar e imaginar filhos, companheiro, amigos. Boas lembranças de algo que ainda não passava de planos, assaltariam a mente de qualquer um com um pouco de sensibilidade.
Sem muito esforço, notava-se um pouco de descaso quanto aos pais e as crianças pequenas, traindo segurança previamente conhecida. Os bebês em seus carrinhos tão bem cuidados repousavam sob olhar de avós corujas que, debruçadas nos puxadores, já os viam grandinhos, a brincar de pique com os irmãos entre aquelas belas árvores.
Naquela tarde, haviam dois rapazes, uma moça e um cão passeando pela praça. O grupo se aproximava de um dos bancos laterais, afastados do resto. O rapaz mais baixo, de mãos dadas com a mocinha, comentava algo enquanto jesticulava com a mão livre abrangendo todo o parque. O mais alto parecia totalmente desinteressado no que era debatido e olhava para o cão enquanto este o acompanhava de perto, com os passos sincronizados ao do dono.
Os quatro caminhavam sem pressa, observando o verde , as crianças, a tranquilidade e tudo que a praça havia pra mostrar. O mais alto se afastou um pouco dos outros dois, passou apressado com o cão em direção à um dos balanços. Sorriu para uma criancinha que brincava, deixou que esta fizesse carinho no cachorro que, contente, balançou o rabo enorme e peludo. O casal, sentado no banquinho, trocava olhares apaixonados, sorrisos e confidências enquanto o amigo e o cãozinho chegavam ao destino. Pararam perto de uma árvore e o rapaz se sentou, chamando o cão para sentar-se próximo.
De dentro da bolsa, o rapaz tirou um livro e abriu. Leu descompromissado um poema:
Umas pedras chutei enquanto caminhava
Antes não o tivesse feito, eu pensava
Logo depois de chutá-las apressada
Queria tê-las colhido. E caminhava.

Três sorrisos e um latido, teria pra contar
Aquela pedra ali deixada, pobre coitada!
Falaria de montes verdes, passos felizes!
Ah, o mar! Queria tê-la jogado no mar.

Sete ondindinhas e uma criança a brincar
Teria a pedra, pobre pedra, a contar.
Se não a tivesse chutado , descaso!
E voltado a caminhar...


Sorrindo ao cão, recebeu um latido baixo e amigo como resposta. Olhou o casal de amigos um pouco mais distante. Tomou do chão uma pedrinha. Mirou certeiro e acertou entre os dois, ainda sorridentes. A menina lançou-lhe uma careta despreocupada. Procurou em seu bolso um lápis e ao livro acrescentou:

"Se a escolha fôsse minha,
Escreveria um poema
Falaria da pedrinha
de histórias mil.
Pequena!"