sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Noites Brancas

Foram-se dias e mais dias mirando aquela tela fria. Sempre a mesma coisa. Ela mirava a foto e o espaço em branco onde apareciam as frases quando ele, longe, apertava o enter. Mecânico. Ela escrevia, teclava enter. Sorriso de lá. Ele escrevia, teclava enter. Suspiro do lado de cá.
Ela, morena jambo de sorriso constante e olhar brincalhão. Ele, amarelo de olhar sombrio e palavras carregadas. Ela, sempre querendo agradar. Ele, possuidor de um jeitão taciturno, cético e monossilábico.
Chovia. Ela mirava aquela explosão de cores tão brancas, fotos de personagens tão distantes e conhecidas. Tudo parecia disforme, opaco e chato sem ele. E como chovia! Ele não apareceu.
Dia seguinte. Ela termina seus afazeres domésticos de adolescente que não mora com os pais ao som de Vinícius e Toquinho. Cantarola junto com eles e pensa nele. ‘Chega de Saudade’ diziam os três. Ela, carregada de sentimentos. Não chovia, era uma noite de luar. Nada dele!
Passaram-se duas semanas sem ele. Duas semanas sem seu sorriso tão estático, seu olhar petrificado e palavras tão belas! Foram tempos escuros, difíceis. Suas noites tornaram-se negras, sem cores nem frases, sem sorrisos nem suspiros.
A lua aparecia linda lá no alto. Banhava seu quarto com uma luz de surpreendente beleza. Branca. Ele não sabia como dizer, como assumia tal absurdo? Ele senta e liga sua máquina abençoada que lhe trouxe a presença dela. Duas semanas de um mesmo ritual: Senta, liga, pensa, desliga.
Não aquele dia! Já bastava! Era ou não um homem crescido? Ligou novamente sua bela amiga fria. Disse a ela muitas vezes antes de conseguir escrever o que sentia. Pensa. Escreve. Enter. Um sorriso do lado de cá. Um suspiro do lado de lá. E como a noite estava bela!


2007